
"Não achas que víamos melhor na terceira fila?" - Perguntou o pai, com aquele ar de quem se apercebeu que todos estão a fazer frete. - "Não comeces outra vez a gritar pai!" - disse a Maria, num tom de autoridade, como se fosse ela a mais velha. A mãe olhou com ar cansado e aborrecido para a empregada. - "Um café, por favor. Dê-me também um bolo. Pode ser aquele queque ali. Obrigado."
Arthur também ali estava à espera. Lembrou-se da primeira vez que foi ao cinema. Que emoção Sair à noite! Todas aquelas luzes da cidade, os tios, o primo, todos sentados apertadinhos no carro do pai. A sala grande, o senhor dos bilhetes, os candeeiros. A sala ainda maior, com aquelas cadeiras bonitas que deixavam levantar e baixar o assento. - 'Iiiih, mãe! Que g'anda televisão!' - dissera, quando dera com os olhos na tela do cinema. Nunca tinha visto nada assim.
Escureceu, a música começara, dava início a sessão da noite. O filme era de aventuras, mas depressa se transformou numa comédia. Arthur não conseguia ver, era demasiado baixo e não havia cadeiras especiais para crianças. Os pais tinham posto os casacos dobrados a fazer de almofada. Nada feito! Lá em casa não tinha cabeças à frente, aqui havia muitas. Sentaram-no na cadeira, com o assento levantado. Ficou mais alto. Agora sim, já podia ver o filme sem estorvo!
Num instante, estava a cavalgar pelo Velho Oeste, quando de repente: - 'Atenção, olha, ali!' - Arthur fazia o gesto e pulava ao mesmo tempo em cima da cadeira com o assento levantado. Todos à sua volta estavam mais interessados no que ele fazia, que na história que a tela contava. As pessoas sorriam com o seu entusiasmo ingénuo, não prestavam atenção ao filme. Aquele menino divirtia-os muito mais. Arthur, não tinha tempo para pensar em como era bonito o cinematógrafo.
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