quinta-feira, 17 de maio de 2012

Único... verso

“Como começou o universo?”, perguntou o Arthur ao primo. O primo sabia que o Arthur gostava de fazer todo o tipo de perguntas, mas não estava à espera desta saída. Como só costumavam estar juntos nas férias ou nalgum fim de semana especial em que a família se reunia, Arthur decidira apontar algumas perguntas num pequeno caderno para as fazer ao primo na próxima oportunidade.

O primo, como costume, aproveitava deliciado para lhe aguçar a curiosidade. - "Algumas pessoas dizem: 'Claro que o universo surgiu por acaso!' Outras, discordam desta ideia. Ainda outras, não têm opinião formada. E tu o que é que achas?"


Arthur não sabia bem o que responder. 
Na verdade, já pensara na questão, mas não tinha muitos conhecimentos de astronomia, ou cosmologia.- "O universo é tão grande" - pensava -, "que não importa para onde olhamos, de tão vasto que é, rapidamente perdemos de vista os objectos nele, mesmo com um telescópio! Como posso eu saber... como o universo começou?"

- Bem, podes usar dois dos instrumentos mais importantes que todos temos à disposição, disse o primo.
- O quê? - perguntou o Arthur.
- Podes usar a observação e a imaginação.
- Como assim? - disse o Arthur.

- Bom, talvez seja mais fácil responder-te com a ajuda deste livro aqui... - O primo levantou-se do sofá e num movimento rápido dirigiu-se para a sua biblioteca, procurou o livro na estante e voltou a sentar-se ao lado do Arthur. - Agora vê tu próprio - disse ao mesmo tempo que lhe abria aquele grande livro verde.

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

O nascimento do primo Gabriel

Uma criança que nasce é um verdadeiro milagre. - Alguém disse. 
Arthur ainda virou a cabeça para onde parecia vir a voz, mas já não conseguiu ver quem dissera aquela frase tão bonita. 
- Nasceu o meu primo, e foi exactamente isso que senti! - pensou o Arthur - uma verdadeira admiração, como que se tivesse ocorrido um verdadeiro milagre.

Inclinando a cabeça para o bebé, Arthur observava com muita atenção, as mãozinhas perfeitas, os dedos finos, tão finos que desafiavam a sua curiosidade. 
- Como é que eles apareceram ali, tão perfeitos? - pensava. - Está tudo no seu lugar! - disse em voz alta, apontando ao mesmo tempo para aquelas mãos tão pequeninas. 
- Foi a genética! - disse o pai do Arthur, com ar bonacheirão a beirar o convencimento. 
Arthur, olhou outra vez para as mãos do bebé, virou-se para o pai, e perguntou: 
- E quem é que fez a genética pai?

sábado, 12 de setembro de 2009

A Palestra

Num anfiteatro ao ar livre, com bancos de cimento e encosto para as costas, Arthur assistia à palestra. Arthur apreciava muito conversar sobre temas científicos. Desde muito pequeno que, nas tardes de fim-de-semana, gostava de se sentar no sofá da sala em frente da televisão, a assistir aos programas de História Natural. E, enquanto crescia, raramente perdia uma oportunidade de falar ou ouvir falar de qualquer coisa relacionada com ciência.

Hoje, passados muitos anos, a conversa era sobre Astronomia e Geografia, mas claro, como todas as coisas estão relacionadas, também metia um pouco de Matemática, Física e Química e, o que também é um tema predilecto do Arthur, História.

O tempo parava, Arthur concentrava-se nas palavras que saiam da boca do palestrante, as imagens projectadas mentalmente, as descrições vívidas, tudo era um deleite.

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

«A Música» e «A Riqueza»



Um pórtico, com seis colunas dóricas mostravam a entrada para o bonito edifício de um só piso, nele duas esculturas atraíram a atenção de Arthur.  «A Música» e... «A Riqueza». 



Fotografia

Museu JM


quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Peripatéticos

Um grupo de velhotes da cidade onde Arthur morava, costumavam deambular pelo jardim público. Na maior parte das vezes, mantinham longas palestras sobre política. 

(As pessoas tinham muitas opiniões sobre quase tudo, especialmente sobre notícias, o futebol e a política). 

Arthur não se interessava por este tema, mas gostava daquele grupo de velhos catitas, que andavam aos soluços, gesticulavam muito e faziam caretas pronunciadas. Imaginava-os parecidos aos sábios da Antiguidade Clássica, que discutiam os assuntos da vida da cidade, e até mesmo os temas científicos, nas suas longas caminhadas pelos jardins. Os peripatéticos. 

Peripatético, aquele que ensina caminhando, ao ar livre - era isso que os velhotes faziam. De dia no jardim, à noite, depois do jantar, pelo rossio. Para cima e para baixo, faziam desenhos na calçada, sempre a gesticular, a ensinar uns aos outros qualquer coisa que pensavam ser verdade.

Alguns anos mais tarde, Arthur vira uma iniciativa como a dos seus queridos peripatéticos. Alguém pensara deambular por algumas zonas da cidade de Lisboa, com uma bicicleta em tudo semelhante à dos gelados, e com o nome mui sugestivo - Ciência Fresquinha. A bicicleta, bonita, cheia de humor, com um daqueles cartazes parecidos aos dos gelados, mas em que no lugar dos gelados, estão as caixas das experiências. Qual o objectivo? Falar e ensinar ciência às pessoas, que por acaso, por ali se cruzassem, ou que pela sua curiosidade, abordassem a monitora. 

Que boa ideia essa! «Jamais conhecerá bem as cousas o que não conhece bem as palavras», disse o escritor Almeida Garrett, e é bem verdade, como Einstein acreditava, que «a maioria das ideias fundamentais da ciência são essencialmente sensíveis e, regra geral, podem se expressas em linguagem compreensível a todos», bem que eles tinham razão! Para se conhecer alguma coisa -, em ciência ou noutros campos da vida - é preciso dominar a linguagem, os conceitos, e para isso, nada melhor do que conversar. Os velhotes peripatéticos sabiam-no bem, por isso, conversavam longamente pelas bonitas avenidas do jardim público. 


Referências

http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Walking_Man.JPG
http://pt.wiktionary.org/wiki/peripatético
http://www.ciberduvidas.com/ensino.php?rid=1947


terça-feira, 8 de setembro de 2009

O Clarinete


As aulas de música prosseguiam. Arthur aprendera o solfejo, o que para muitos aprendizes de música é a parte mais dura das aulas de iniciação. A pauta gravada a branco no quadro negro, onde o professor desenhava as notas; a clave, que na verdade é a chave para se saber o nome da nota que está na sua linha; e por fim, a ordem das notas, dó, ré, mi, fá, sol, lá e si. Nesta altura, aprendia-se com a ajuda de um professor, a quem os alunos chamavam mestre. Havia alguns com nomes muito curiosos. O mestre Onofre, o mestre Isidoro, o mestre José Augusto, o mestre Mamede e depois o maestro Nogueira Rego, de quem o Arthur gostava muito, e que tocava Clarinete.

Observar o maestro, no momento em que abria a mala do instrumento e começava a montar as peças uma a uma, era como aguardar o início de um espectáculo. Os que por ali estavam a observar, deliciavam-se com as primeiras notas que saiam do clarinete. Era um instrumento soberbo. Aquela, era a primeira vez que Arthur ouvia tocar aquele instrumento ao vivo. O som límpido do Clarinete, os graves doces, aveludados, depois a passagem para o registo médio com as notas mais claras e os agudos que se podiam ouvir por cima da Banda inteira, deixaram-no convencido de que queria aprender a tocar aquele instrumento.



segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Cubo de gelo


O Arthur e o Manel passaram a tarde na cozinha. De todas as divisões lá de casa, aquela era a única, onde podiam experimentar coisas novas à vontade, sem a preocupação de estragar alguma coisa. Foi ali naquele espaço excelente que fizeram o seu pequeno laboratório.

«Vamos imaginar que temos um cubo de gelo», disse o Arthur. «É sólido» continuou. «Vai buscar um, ali ao frigorífico», disse o Manel. Arthur foi e voltou com a cuvete de plástico carregada de cubos de gelo.

«Sabes que a professora de Português disse na última aula, que cuvete, é uma palavra de origem francesa, um galicismo, que a nossa é tina?», disse o Manel. «Mas, se quiseres adaptar ao nosso português, podes dizer cuveta, assim como bicyclette e bicicleta!» Arthur, olhou o amigo surpreendido. Sabia que o Manel era um barra a matemática, mas agora, que também se interessasse por línguas, isso era novidade.

«Comecemos a aquecer e o cubo de gelo» disse o Arthur. «Já está a transformar-se em líquido» notou o Manel, e acrescentou «Se continuares a aquecer, vai transformar-se em gás. Em vapor de água». «O que está a acontecer é que, os átomos e as moléculas de água, estão a começar a colidir umas nas outras. E se a violência dessas colisões for suficientemente forte, se a agitação térmica dessas moléculas aumentar, o gelo derrete-se todo, e a água passa do estado sólido para o líquido e depois para o gasoso» comentou Arthur, que se deliciava por dar explicações científicas.

«E se aquecermos mais ainda, muito mais, os electrões começam a saltar das moléculas e começamos a ter um plasma!» disse o Arthur. «Ah é?», perguntou o Manel. «Sim. É como aquela tecnologia dos televisores». «A sério?» «Sim, mas é claro que nos televisores, são apenas uns pontinhos pequenos que são aquecidos, de tal modo que a matéria já não está em nenhum dos três estados comuns, mas num quarto, o plasma» completou o Arthur.

E ali ficaram os dois amigos, a imaginar um modo de transformar o velho televisor - que o pai há muito tempo arrumara na garagem -, num moderno aparelho de tecnologia plasma.



Fotografia

Texto de apoio


Único... verso

“Como começou o universo?”, perguntou o Arthur ao primo. O primo sabia que o Arthur gostava de fazer todo o tipo de perguntas, mas não esta...