quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Peripatéticos

Um grupo de velhotes da cidade onde Arthur morava, costumavam deambular pelo jardim público. Na maior parte das vezes, mantinham longas palestras sobre política. 

(As pessoas tinham muitas opiniões sobre quase tudo, especialmente sobre notícias, o futebol e a política). 

Arthur não se interessava por este tema, mas gostava daquele grupo de velhos catitas, que andavam aos soluços, gesticulavam muito e faziam caretas pronunciadas. Imaginava-os parecidos aos sábios da Antiguidade Clássica, que discutiam os assuntos da vida da cidade, e até mesmo os temas científicos, nas suas longas caminhadas pelos jardins. Os peripatéticos. 

Peripatético, aquele que ensina caminhando, ao ar livre - era isso que os velhotes faziam. De dia no jardim, à noite, depois do jantar, pelo rossio. Para cima e para baixo, faziam desenhos na calçada, sempre a gesticular, a ensinar uns aos outros qualquer coisa que pensavam ser verdade.

Alguns anos mais tarde, Arthur vira uma iniciativa como a dos seus queridos peripatéticos. Alguém pensara deambular por algumas zonas da cidade de Lisboa, com uma bicicleta em tudo semelhante à dos gelados, e com o nome mui sugestivo - Ciência Fresquinha. A bicicleta, bonita, cheia de humor, com um daqueles cartazes parecidos aos dos gelados, mas em que no lugar dos gelados, estão as caixas das experiências. Qual o objectivo? Falar e ensinar ciência às pessoas, que por acaso, por ali se cruzassem, ou que pela sua curiosidade, abordassem a monitora. 

Que boa ideia essa! «Jamais conhecerá bem as cousas o que não conhece bem as palavras», disse o escritor Almeida Garrett, e é bem verdade, como Einstein acreditava, que «a maioria das ideias fundamentais da ciência são essencialmente sensíveis e, regra geral, podem se expressas em linguagem compreensível a todos», bem que eles tinham razão! Para se conhecer alguma coisa -, em ciência ou noutros campos da vida - é preciso dominar a linguagem, os conceitos, e para isso, nada melhor do que conversar. Os velhotes peripatéticos sabiam-no bem, por isso, conversavam longamente pelas bonitas avenidas do jardim público. 


Referências

http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Walking_Man.JPG
http://pt.wiktionary.org/wiki/peripatético
http://www.ciberduvidas.com/ensino.php?rid=1947


Sem comentários:

Único... verso

“Como começou o universo?”, perguntou o Arthur ao primo. O primo sabia que o Arthur gostava de fazer todo o tipo de perguntas, mas não esta...