quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Toni... deixa passar o senhor

O menino esticava-se...
Pôs-se em bicos de pés para chegar ao topo da prateleira. A mãe tinha-lhe pedido mais um simples recado. É claro, tinha de o fazer como a mãe dizia! Mas ele não gostava daquelas idas ao supermercado. Todos aqueles quilómetros de letras e números enfileirados. Depois, havia o problema do troco. Sim, era um problema. Ele confiava em todos, achava que a senhora do supermercado nunca o enganaria. Afinal ela estava lá, não estava? Quem a pôs lá confiava nela, porque razão ele não havia de confiar também?

Mas acontecia mais uma vez. A mãe bem o tinha avisado: -"Arthur, olha para o troco! Contas as moedas que a senhora te dá, tens de trazer quinze cêntimos!" - Mas o Arthur, não contava. Confiava. E no seu porta-moedas à maneira antiga, daqueles que se abrem como se fossem um pequenino envelope, daqueles em que se tinha de dobrar uma nota em quatro, para que coubesse na bolsinha das notas, lá carregava o dinheiro à conta para o recado no supermercado. O problema era a caixa. Era um sarilho! Todas aquelas contas, preços, números para aqui, números para ali, um sem parar de operações que lhe pareciam tão complicadas.

Chegado a casa, Arthur ficara ainda mais aflito. Confrontar o seu porta-moedas vazio com a expressão seca da mãe, era-lhe ainda mais penoso. Era como se o seu mundo fosse acabar. E lá voltava a história toda, primeiro, tinha de passar pela vergonha de ir mais uma vez ao supermercado, depois, enfrentar o olhar espantado da senhora da caixa, agora não tão bonita como quando lá tinha ido na primeira vez. Enfim, que embaraço! Prometera a si mesmo que, quando crescesse e tivesse um filho, nunca o faria passar pelo mesmo.

O relógio indicava a hora em que o pai chegava a casa. A mãe tinha-lhe dito que não o deixava sair se não copiasse a tabuada inteira. Mas o pai condescendeu. - "Oh filho, tu tens de te aplicar!" O pior é que o pai tinha razão, mas Arthur não sabia disso.

Ia agora aos ombros do pai, contente, sem porta-moedas, sem moedas e sem recados de supermercado para se preocupar. O Pai lá continuava, no seu ritmo habitual. Não via. Não podia ver. Mas a esposa disse-lhe: - "Toni... deixa passar o senhor." - Arthur e o pai, desviaram-se para a beira do passeio, e o homem que estava atrás deles, lá conseguiu passar. Arthur pensava: - 'Concerteza, aquele homem, conseguiu decorar a tabuada toda!'

Arthur cresceu, e por estranho que pareça, aprendeu a gostar de Aritmética.



Referências

1 comentário:

eunice disse...

...ainda hoje a mãe do Arthur conta os trocos todos quando vai ao supermercado, ou é enganada! Será?

Único... verso

“Como começou o universo?”, perguntou o Arthur ao primo. O primo sabia que o Arthur gostava de fazer todo o tipo de perguntas, mas não esta...