
Arthur gostava de ver exposições de arte. Cada vez que voltava para casa vinha diferente. A arte abria-lhe os olhos para coisas que nunca vira, ou até mesmo, pensara alguma vez que existissem. Tinha pedido ao pai para o levar a ele e à irmã, a visitar um dos museus da cidade. Quando entraram no edifício, sentiram logo que estavam num lugar especial. As pessoas ali não andavam com pressa, andavam a passo lento, olhavam com muita atenção, paravam, diziam qualquer coisa baixinho entre si, andavam mais um pouco. Um passo à frente, outro atrás, olhavam com muita atenção, balançavam a cabeça, andavam mais uns passos para o lado, e toda esta coreografia era repetida. Às vezes, havia uns passos diferentes, naquela dança, mas em geral, tudo era repetido na próxima obra, uma mímica quase perfeita.
Arthur divertia-se a imaginar como seria, se as pessoas que ali estavam a apreciar as obras, a fazerem todos aqueles movimentos, ficassem num instante sem o museu. Isto é, como se alguém gigante, fizesse desaparecer o museu, as obras, tudo desaparecesse. Apenas as pessoas e as suas danças, só os movimentos, ficavam. Era como se todos estivessem lá fora no parque, ou noutro lugar, sem mais nada, apenas as pessoas. Como era divertido usar a imaginação assim.
O pai chamou a atenção para um quadro enorme, que ocupava todo o comprimento da parede da sala. Que obra. As pessoas lá pintadas pareciam vivas. Como se o pintor tivesse piscado os olhos, e aquela cena ficasse ali gravada. Sala após sala e o museu ia-se revelando. Entravam agora numa sala ainda maior, quando Arhur, sem se aperceber, pisou qualquer coisa que estava no chão, que não tinha reparado. Depressa se abaixou para endireitar o que parecia ser uma flauta de Pã, aliás, um corredor de flautas de Pã, enfileiradas como peças de dominó, umas atrás das outras, mas em que alguém tinha tido o prazer de derrubar. Mas tarde demais. O vigilante da sala tinha ouvido o barulho do ferro. E ainda Arthur estava de cócoras, a compor as estranhas peças de ferro, e já o homem começava a repreendê-lo. Arthur pediu desculpa, não tinha reparado naquilo ali deitado no chão. O senhor corrigiu-o: -"É uma obra de Arte, isto é uma instalação, não é para mexer!" - O pai, não valorizou a cena, encolheu os ombros num gesto de descaso e disse para o filho: -"Deixa lá amigo, acho que o artista queria que chocássemos com a sua Arte."
Fotografia
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