segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Demócrito e o torrão de açúcar


Estava um dia de Sol magnífico. Arthur lembrou-se de uma outra ocasião assim, há alguns anos atrás, quando era bem mais jovem. Fora um dia em que fizera uma tremenda descoberta.

Tinha passado toda a tarde no parque. Estivera por ali sozinho a observar as pessoas, a ver toda aquela variedade de plantas, a atirar pão aos patos no lago, a deliciar-se com as ondas na água que estes faziam. Estar sozinho era bom. Dava-lhe tempo para pensar e para ler. Ler era como pensar, mas acompanhado. Era uma espécie de conversa entre ele e a pessoa que escrevera o livro. Levara o último livro que recebera como presente do primo, aquele fora sem dúvida, um dos melhores livros que lhe haviam dado.

O livro começava por explicar que um grego antigo, um sábio chamado Demócrito, que vivera no século V antes da nossa época, dissera uma vez: - "Nada existe além de átomos e vazio". - Arthur nunca tinha ouvido aquela palavra. "Átomo"? - O livro continuava: - "Tudo o que víamos era feito de átomos, que eram partículas muito pequeninas, Átomo significava por isso, 'impossível de dividir'."

Era como se todas as coisas fossem feitas de 'torrões', que podiam dividir-se em grãozinhos de açucar. - "Nós somos feitos de uma combinação de átomos!" - a imagem era muito clara. - "Aquela era uma espantosa descoberta! Porque as pessoas não pensavam nisso?" - Mostrava a simplicidade e, ao mesmo tempo, complexidade de todas as coisas. Mas parece que esta ideia não afectava ninguém ali no parque.

À noite, já em casa, depois do jantar, descascara uma maçã. Uma maça tem cor, textura, tamanho, forma, e... átomos. Demócrito tinha ilustrado, com uma maçã, a sua ideia. O sábio imaginara-se a cortar aquela peça de fruta ao meio, depois novamente ao meio e assim sucessivamente. Demócrito dissera: - "A divisão da maçã é possível porque é feita de átomos. Quando a cortamos, a faca tem de passar pelos espaços vazios entre esses átomos. Se continuarmos, acabaremos por encontrar uma dessas partículas, um desses átomos". - Depois da fruta, Arthur ficara ali sentado à mesa, atónito, sozinho, a brincar com os torrões de açucar... e a pensar no Demócrito. Conhecera o pequeníssimo átomo, o bloco de construção de todas as coisas.



Referências

fotografias

texto

DAMPIER, William Cecil; CANDEIAS, Alberto, trad. - História da Ciência e das suas relações com a Filosofia e a Religião. Lisboa : Editorial Inquérito, 1944

CRATO, Nuno; PEREIRA, Vasco F, ilustração. - Passeio Aleatório pela Ciência do dia-a-dia. Lisboa : Gradiva, 2008
ISBN 978-989-616-216-0


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